Safra
Período da pesca tem início cercado por incertezas
Burocracia e possibilidade de mais um verão chuvoso preocupam trabalhadores da Z-3
Carlos Queiroz -
Outubro chegou com notícias boas e ruins aos pescadores da Colônia Z-3. Se por um lado foi finalizado o período do defeso e liberada a pesca da tainha, do bagre e da corvina, as fortes chuvas têm contrariado a previsão de clima mais seco, imprescindível à pesca do camarão, principal fonte de renda para mais de 700 trabalhadores.
O presidente do Sindicato dos Pescadores da Colônia Z-3, Nilmar Conceição, elege dois principais inimigos para a temporada de pesca: burocracia e condição climática. Em relação à primeira, o problema está na inconstância de órgãos que representem a categoria na esfera nacional. Na reforma ministerial que promoveu logo que alçado ao cargo que hoje ocupa, o presidente Michel Temer (PMDB) descontinuou o Ministério da Pesca, acoplando o setor ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). A decisão, pouco popular, durou três meses e os pescadores foram remanejados ao Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic), dentro do qual uma secretaria específica para tal trabalho foi criada. “Em cada troca dessas a pessoa tem de preencher e enviar um formulário diferente”, explica Conceição.
Em relação ao clima, a apreensão se justifica pela incerteza. O fenômeno El Niño, que trouxe chuva em demasia nos últimos anos, resultou em escassez na pesca. Para os próximos meses, os institutos meteorológicos sinalizam com iguais chances a ocorrência de um novo El Niño, o que significaria mais água, e de um verão neutro, ou seja, com ausência de fenômenos meteorológicos e tempo seco. Caso a primeira opção se concretize, esse será o quarto verão consecutivo de safra de camarão frustrada.
Explica-se: para que seja boa a safra do crustáceo, principal fonte de renda da Colônia Z-3, é importante que o nível da Lagoa dos Patos baixe, permitindo que a água doce, enfim, salgue e possibilite a proliferação e o desenvolvimento do animal. De acordo com o presidente do Sindicato, é preciso que isso ocorra até novembro, no máximo no início de dezembro, para que a captura possa ocorrer. “Se salgar em janeiro não tem mais tempo de ele crescer, fica apenas na larva”, explica.
A apreensão está estampada no olhar de trabalhadores como Ivaldo Rodrigues. Segundo o pescador, a situação está “dez vezes pior” que no ano passado. “Trabalho há 30 anos e nunca existiu uma crise assim, que parece que nunca vai terminar”, comenta.
Seguro-defeso
Se o período de defeso terminou, o imbróglio envolvendo o seguro ainda não. De acordo com o sindicato, 20 pescadores ainda não receberam a compensação pela pausa nos trabalhos. O caso se encontra nas mãos do Judiciário.
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